Sociedade Esparta- Capitulo 2

12-08-2008 20:07

 

CAPITULO II-OS ROSA-CRUZES

 

Mitos que envolvem a realização dos mais altos anseios religiosos estão continuamente presentes em historias e lendas. Normalmente, os elementos que compõem esses mitos aparecem na forma de heróis fantásticos, viagens por mundos enigmáticos e longas jornadas de aprendizado, dificuldades, perseguições; enfim, todo um aparato de símbolos e ideais que visam causar um certo impacto e o necessário trauma em nossa consciência.

Os mitos- e mesmo aqueles equivocadamente tomados como verdades factuais- podem ser entendidos como possuidores de um propósito único: o de, através de um drama, expor certos mistérios que promoverão uma alteração no estado mental do observador, criando condições para que se processe algum tipo de crescimento na humanidade como um todo, aprimorando sua consciência. Ou seja, são os próprios objetivos do evento pelo nome iniciação.

Visto isso, passemos agora a uma pequena investigação de cunho parcialmente histórico e filosófico sobre uma das aventuras que mais chamam a atenção dos assim chamados estudantes dos mistérios. A palavra chave da aventura que agora apresentamos é: Rosacruz.

Proferida isoladamente ou de forma indiferente, essa simples palavra tem o poder de despertar paixões abrasadoras e sonhos intensos. A carga histórica, mística e filosófica que o termo rosacruz carrega é tamanha que, não é raro encontrar aqueles que nele depositam as tendências de tudo o que hoje em dia se convencionou chamar de oculto ou esotérico.

Porem, qual a origem ancestral do termo? Seria o insondável continente Atlante? E seu verdadeiro significado? O que significa ser um rosacruz? Terão os Rosacrzes todos os poderes e as faculdades a eles atribuídas?

A primeira dificuldade que o termo rosacruz apresenta esta relacionada com o montante de para pesquisa. Ele é vastíssimo. Contudo, tanto para o horror do pesquisador com moderado senso critico quanto para o delirante deleite das mentes menos afortunadas, esse material, como enfaticamente afirmado por Francis A. Yates( O Iluminismo Rosacruz), é em grande parte imprestável.

Mas, se a primeira dificuldade esta justamente na qualidade do material para pesquisa, seguramente um dos pontos mais polêmicos do estudo dessa matéria diz respeito a origem da Rosacruz.

Alguns são enfáticos na fantástica afirmação de que ela teria suas raízes no Egito antigo, por volta de 1500a.C., na 18 dinastia, na época de Tutmosis III, considerado um dos maiores faraós de toda a historia egípcia. Segundo esses mesmos autores, algumas décadas depois, Amenofis- ou Amenhotep IV, também conhecido como Akenaton- teria sido iniciado nos mistérios da irmandade esotérica organizada por seu predecessor. O então iluminado Akhenaton, inspirado pelos novos ensinamentos e mistérios, adotaria o regime monoteísta da religião, com seu culto ao deus único Aton, dando inicio a uma nova época áurea da civilização egípcia. Certos autores vão ainda alem, afirmando ou ensinuando que o próprio farao Akhenaton teria sido nada menos que o fundador da rosacruz. Essa fantástica versão egípcia para a origem da rosacruz é bem explorada no pitoresco Perguntas e Respostas Rosacruzes, de H. Spencer Lewis, bem como em vários artigos na Internet.

Muito embora existam os que consideram o faraó Akhenaton um iluminado, a historia não é lá muito cortes com sua pessoa. Alguns historiadores- como G. Oncken e E. Meyer- apenas o sitam como tendo sido um militar fracassado, responsável pela ruína de parte de seu império; outros o tem como um alienado cujo delírio monoteísta o levou a viver isolado enquanto o reino mais antigo do mundo ruía desgovernado, esquecido e muitas vezes revoltado.

Não existe sequer um argumento histórico confiável( seja na historia original ou não ) que comprove a fundação da rosacruz por algum faraó, ou mesmo que ponha a origem dessa fraternidade nas terras banhadas pelo Nilo.

Contudo, não podemos deixar de dizer que, como indicado por vários autores, parece existir um conhecimento perene e ancestral que acompanha o ser humano em sua escalada evolutiva. Sendo assim, é possível supor que esse conhecimento, que foi preservado atravez dos tempos, dos templos e das civilizações, estivesse presente em nosso mais remoto ancestral e quiçá antes dele. Desse modo não seria de todo absurdo supor que o sistema de pensamento e a filosofia rosacruciana fizessem parte de um todo maior, cujas raízes se fundem na antiguidade da própria tradição oculta ocidental.

Ao que tudo indica, a própria origem do termo rosacruz esta no nome de um certo Cristian Rosenkreutz, personagem principal de uma das lendas mais notáveis que a imaginação do homem concebeu, e que teria vivido nos séculos 14 e 15.

A despeito de qualquer origem fantástica que podemos atribuir a rosacruz, atualmente existem duas hipóteses que a pesquisa indica como sendo as mais prováveis. Ambas tem raízes nos bem conhecidos manifestos rosacruzes lançados na Europa a partir da segunda década do século 17.

O primeiro desses 3 manifestos levava o titulo abreviado de Fama Fraternitatis, aparecendo impresso, segundo Yates, por volta de 1614, em uma pequena cidade chamada Cassel, na Alemanha, ainda que já estivesse em circulação em forma de manuscrito desde 1610. o segundo manifesto, conhecido de modo genérico por Confessio, viria a luz no ano de 1615, simultaneamente em Cassel e Frankfurd. O terceiro e ultimo manifesto, As Bodas Alquímicas de Cristian Rosenkreutz, foi levado a publico em 1616, publicado em Estrasburgo.

O primeiro manifesto, Fama, apresenta a vida do fundador da fraternidade Rosacruz, o monge Cristian Rosenkreutz, nascido na Alemanha em 1378, e sua viagem a terra sagrada, desviando-se de seu itinerário original e chegando a Arábia, onde passaria a receber misteriosas instruções secretas. De posse desse conhecimento, volta a Europa com o intuito de tornar publico o seu novo saber, mas é rejeitado. Voltando para a Alemanha, ele é ajudado por 4 irmaos na tradução do misterioso livro “m”, cujo conhecimento deveria ser mantido em segredo ate que a humanidade estivesse devidamente preparada para recebe-lo.

Assim, é criada a Fraternidade Rosacruz, com o intuito de manter o conhecimento daquele grupo de iniciados.

A Fraternidade Rosacruz, segundo a concepção de seus criadores, funcionaria tendo os segintes seis preceito e regras básicas, a serem estritamente observados:

1- Estavam proibidos de exercer qualquer profissão, a exceção daquela que curaria os enfermos, e isso, a titulo de caridade;

2- Não deveriam usar trages que os distinguissem da população local, como acontecia com o clero e com outras ordens religiosas, mas antes deveriam passar como se fossem habitantes dos locais onde eles estivessem;

3- Todos tinham a obrigação de estar presentes em um dia previamente marcado, denominado de “dia C”, na sede do Espírito Santo, onde todos os rosacruzes deveriam se reunir anualmente. No caso de impossibilidade, explicar por escrito o motivo da ausência;

4- Cada irmão rosacruz deveria procurar e , no caso de encontrar, informar a existência de pelo menos uma pessoa de valor que pudesse sucede-lo, quando necessário;

5- As letras C. R. seriam o selo maior de reconhecimento;

6- A confraria deveria permanecer oculta por pelo menos um século.

Todos os irmãos rosacruzes daquela época juraram absoluta fidelidade a esses seis princípios.

Alguns anos mais tarde, aparece o segundo manifesto rosacruz, o confessio, que, ao que tudo indica, perece ter como base o famoso escrito Mona Hyerogliphica, de John Dee, o notável astrólogo e matemático isabelino. O confessio expõe em seus muitos capítulos a estrutura, as concepções intelectuais da Ordem e os princípios rosacruzes. Necessidades de reformas religiosas como, por exemplo, procurar ser totalmente independente do império papal, eram um dos pontos importantes desse opúsculo.

O terceiro documento rosacruz, as Bodas Alquímicas de Cristian Rosencreuts, narrava de forma alegórica e fantástica o suposto casamento alquímico do fundador da ordem, quando este já cantva 81 anos de idade. Cristian teria ficado durante 7 dias inteiramente absorvido por um enlace místico repleto de visões, jornadas ritualísticas e representações enigmáticas.

Esses 3 pequenos livros foram o suficientes para causar um alarde sem igual na Europa do século 17. a cada aparição de cada um dos documentos, a fértil imaginação setentista era tomada de assalto por um crescente desejo comum de busca pela tão estimada, misteriosa e invisível fraternidade. Porem, onde a encontrar?

Como resultado de toda euforia rosacruciana, vários foram aqueles que tentaram estabelecer contato com esses iniciados. Como conseqüência imediata dessa busca frenética, um grande numero de obras foi editado, sempre tendo como base os manifestos rosacruzes. Nomes como Michael Maier e Robert Fludd, apareciam apareciam como admiradores das doutrinas rosacruzes. O próprio Michael Maier, que na época já era uma figura de destaque na Europa, se transformaria num dos mais fervorosos defensores dos rosacruzes. Uma serie de organizações também teria a sua vez nos anos que se seguiram a publcaçao dos primeiros manifestos rosacruzes.

Após examinar o entusiástico conteúdo dos manifestos, é natural que muitas questões despontem na mente do estudante que se aventura na pesquisa do símbolo rosacruciano. Entre tantas questões intrigantes, provavelmente duas assumem um caráter decisivo: quem, na verdade, é o responsável pela descrição da saga do irmão C. R., e quem escreveu os três manifestos?; e a ordem rosacruz em si, seria puramente uma alegoria, um mito, uma fantasia, ou seria de fato o fruto de uma incrível realidade mágica, que poderia estar ao alcance de qualquer um?

Para essas questões vitais sobre a realidade ou não do advento rosacruz, provavelmente não teríamos qualquer indicio de resposta, não fosse uma declaração com ares de confissão, encontrada na autobiografia de Johann Valentin Andreae, sugundo o qual teria sido ele o autor das Bodas, escrita em 1605, bem antes de sua publicação, quando Andreae contava com apenas 19 anos de idade.

Alguns pesquisadores e especuladores- tendo esse dado como única base concreta em todo o material de pesquisa- vão alem, confirmando que Andreae não só era o responsável por Bodas, mas também teria escrito os outros dois.

Com esse novo personagem surge outra questão: quem foi Johann Andreae e qual o seu papel nessa historia?

Andreae nasceu em 1586, no estado luterano de Wurttemberg. Sua família, tradicionalmente católica, teria se convertido ao protestantismo, sendo que o seu avo, Jacob Andreae, foi um dos primeiros expoentes e pioneiro da reforma luterana, chegandoa ser conhecido como o Lutero de Wurttemberg. Por meio de seu pai, logo tomaria conhecimento do simbolismo alquímico.

Na passagem do século 16 para o 17, a Europa ainda estava agitada pelas conseqüências da reforma luterana, com vários pequenos grupos independentes acalentando sonhos reformistas a procura da sociedade ideal. Normalmente esses grupos eram formados por idealistas, filósofos e, de maneira geral, por pessoas bem instruídas e inteligentes. Andreae participou de um desses grupos, conhecido pelo nome Circulo de Tubinga, que teria importância fundamentalna formação dos ideais do jovem Andreae.

Porem, alguns anos mais tarde, em sua autobiografia, ele não só negaria a versão factual da saga do místico C. R., como também afirmaria que tudo aquilo concebido como sendo rosacruz não passava de um grande “ludibrium”, propositalmente elaborado e sem quelquer fundamentação histórica.

Não se sabe ao certo se essa confissão de Johann foi movida por um repentino senso de honestidade e consciência ou- versão preferida pela maioria dos estudantes- teve como causa a violenta reação e a forte pressão que a igreja católica exerceu diante da possibilidade rosacruz e sobre muitos grupos com tendências reformistas.

Então, conhecidos os 3 manifestos, sua suposta origem e autor, como também algumas razoes do aparecimento publico de uma suposta organização secreta, como dito anteriormente, duas tendências principais são estabelecidas.

A primeira aponta para uma negação decisiva de toda lenda, a demanda e a própria existência do ilustre irmão R.C.. partindo do principio de que o próprio autor dos 3 manifestos que dão sustento a toda a saga rosacruz fez uma retratação publica afirmando que tudo não passou de um trote, um engodo desnecessário, os defensores desse ponto de vista entendem que tudo aquilo que esta relacionado ao tema, direta ou indiretamente, é falso.

Muitas vezes, aqueles que adotam essa postura são enfáticos em afirmar que tudo não passava de uma farsa protestante mal articulada, entendendo que o termo farsa é um dos significados atribuídos a palavra latina “ludibriun”.

Até mesmo o nome rosacruz seria de origem protestante, pois teria vindo das insígnias de Lutero, que tinha uma rosa. Também é feita uma associação entre o brasão da família Andreae com o mote rosacruz, visto haver ali algumas rosas e também uma cruz. Mas se formos encarar todas as aparições de rosas e de cruzes como inegável indicação de algo relacionado a rosacruz, certamente perderíamos uma vida inteira apenas localizando esses símbolos. A origem da associação entre rosas e cruzes parece estar localizada em um romance de cavalaria O Romance da Rosa, de meados do século 12.

Sob um ponto de vista histórico um pouco menos rígido, a segunda hipótese agrada muito mais a mente especulativa e romântica, pois vem endossar a idéia de que realmente existiu uma Fraternidade Rosacruz. Nesse caso, a fraternidade consistiria de uma ordem oculta as mentes profanas, que trabalhava em total segredo, visando a evolução do ser humano e da sociedade que o nutria.

Porem, mesmo conhecendo essas 2 hipoteses - opiniões inteiramente contrarias em conhecimento, metas e sentimento- não seria difícil ventilar, mesmo que também no campo das hipóteses, uma terceira possibilidade para toda essa aventura, talvez um ponto médio entre o sim e o não, entre o tudo é mentira e o tudo é verdade.

E esta nova suposição- apreciada pela alma que anseia o mistério e bem tolerada pelo espírito critico- possivelmente trará luz a ambas, embora possa suscitar a ira do crédulo e o deboche do critico.

Talvez o problema não seja crer ou não crer na aventura rosacruz, mas sim entende-la. Talvez a solução para o enigma não esteja meramente no cego aceitar de uma lenda sem fundamentação factual; mas também não estará em um frio parecer histórico condenando toda a alegoria. Porem. Podemos tentar absorver seu significado mítico.

Assim, talvez fosse de bom grado se pudéssemos entender todo o processo que compreende a alegoria rosacruz: a vida de seu suposto criador e mentor; sua longa jornada em busca de um conhecimento superior com os sábios do oriente; o retorno a sua terra natal, na tentativa de organizar uma augusta fraternidade que brindaria a humanidade com dias mais gloriosos, etc.. Tudo funcionaria como um mito, ou um rito a ser realizado no intimo a todo estudante.

Afinal, é difícil supor que exista alguém que, tendo a oportunidade de examinar, mesmo que de relance, a epopéia de heróis fantásticos, não tenha se sentido inclinado de se imaginar na pele do herói observado.

E quanto a aventura rosacruz... bem, ela parece continuar...

E que assim seja.

 

 

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